Atividades experimentais para estudantes com deficiência visual

reflexões a partir dos Estudos da Deficiência na Educação

Palavras-chave: Ensino de Ciências, Atividades Experimentais, Deficiência Visual, Estudos da Deficiência na Educação

Resumo

O ensino de Ciências desenvolveu-se historicamente a partir de uma didática majoritariamente visual, o que limita o acesso e a aprendizagem dos conhecimentos científicos de estudantes com deficiência visual em todos os níveis educacionais. Assim, este artigo tem como objetivo apresentar reflexões fundamentadas nos Estudos da Deficiência na Educação acerca da realização de atividades experimentais para estudantes com deficiência visual, apontando possibilidades para o ensino de Ciências em uma perspectiva inclusiva. Para tanto, por meio de um trabalho teóricoconceitual, apresentam-se experimentos já publicados na literatura nacional e internacional. No Brasil, os Estudos da Deficiência na Educação ainda são incipientes nas pesquisas acadêmicas e práticas escolares. Dessa forma, é profícuo o diálogo entre tais Estudos e o ensino de Ciências, pois o docente que trabalha a partir do modelo social da deficiência estará aberto para aprender e ensinar com as diferenças. O reconhecimento e a valorização das múltiplas corporalidades humanas são necessários para desenvolver formas mais democráticas e inclusivas de escolarização, nas quais o sentido da visão não seja um pré-requisito para que o estudante possa aprender e se apropriar do mundo e dos fenômenos. Defende-se, portanto, a necessidade de que as práticas pedagógicas sejam desenvolvidas a partir de outros canais sensoriais além da visão, tais como o tato, olfato, audição e o paladar, quando possível. Conclui-se que as atividades experimentais realizadas com base em recursos de tecnologia assistiva, estratégias didáticas multissensoriais e fundamentadas no desenho universal da aprendizagem, constituem-se como elementos imprescindíveis para o processo educativo de estudantes com e sem deficiência visual.

Biografias dos Autores

Ana Paula Boff, Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) – Florianópolis, SC, Brasil

Mestra em Educação pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB)

Anelise Maria Regiani, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Florianópolis, SC, Brasil

Doutora em Química pela Universidade de São Paulo (USP)

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Publicado
2023-01-26