Tateando as estrelas
proposta de sequência didática para o estudo de constelações
Resumo
O ensino e a aprendizagem de Ciências são comumente vinculados à visão. Pensando na perspectiva das ciências astronômicas isso não é diferente, especialmente quando se trata da observação do céu, incluindo as estrelas e as constelações. Propondo quebrar esse estigma, este trabalho tem por objetivo descrever materiais didáticos e como estes estão inseridos no contexto de uma proposta de sequência didática de três aulas na área de Astronomia, bem como uma sugestão de como aplicá-la no contexto de uma sala de aula do ensino regular com alunos com deficiência visual. As temáticas que podem ser trabalhadas relacionam-se aos parâmetros não visuais do brilho das estrelas e à construção humana, cultural e coletiva da Astronomia, a partir das constelações tupis da Anta, Veado, Ema e Homem Velho, indicadores das estações do ano. As aulas sugeridas são guiadas pelos princípios da multissensorialidade, que busca compreender e usufruir de todos os sentidos humanos no ensino, aprendizagem e construção do conhecimento científico. Nesse sentido, os recursos didáticos trabalham com o sentido tátil, entendido como um caminho importante de compreensão dos conceitos estudados por parte dos estudantes com e sem deficiência visual. A proposta sugerida é composta pelos seguintes materiais didáticos: a “Caixa Estelar”, a constelação do Cruzeiro do Sul planificada e o “Caderno de Constelações”. A partir deles é possível abordar o conceito de constelações, o aspecto cultural e cotidiano nelas envolvidos, bem como o movimento anual dos astros. Foram sugeridas atividades individuais e coletivas que mostraram que as construções dos conhecimentos astronômicos, especialmente sobre o céu, são realizadas por seres humanos em conjunto. Com este trabalho, espera-se que o estudo da Astronomia em ambientes formais de educação possa ser desenvolvido sem que a relação entre ensino e aprendizagem seja pautada estritamente pelo sentido da visão, além de poder proporcionar um desenvolvimento que ultrapassa o aspecto conceitual, chegando ao nível atitudinal, ou seja, sensibilizando os educandos a compreender as potencialidades do material didático de proporcionar condições de aprendizado aos alunos videntes e com deficiência visual por ser acessível também a estes.
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