Tateando as estrelas

proposta de sequência didática para o estudo de constelações

  • Lucas Pasquali Darim Universidade de São Paulo (USP)
  • Verónica Marcela Guridi Universidade de São Paulo (USP)
  • Beatriz Cavalheiro Crittelli Universidade Federal Fluminense (UFF)

Resumen

O ensino e a aprendizagem de Ciências são comumente vinculados à visão. Pensando na perspectiva das ciências astronômicas isso não é diferente, especialmente quando se trata da observação do céu, incluindo as estrelas e as constelações. Propondo quebrar esse estigma, este trabalho tem por objetivo descrever materiais didáticos e como estes estão inseridos no contexto de uma proposta de sequência didática de três aulas na área de Astronomia, bem como uma sugestão de como aplicá-la no contexto de uma sala de aula do ensino regular com alunos com deficiência visual. As temáticas que podem ser trabalhadas relacionam-se aos parâmetros não visuais do brilho das estrelas e à construção humana, cultural e coletiva da Astronomia, a partir das constelações tupis da Anta, Veado, Ema e Homem Velho, indicadores das estações do ano. As aulas sugeridas são guiadas pelos princípios da multissensorialidade, que busca compreender e usufruir de todos os sentidos humanos no ensino, aprendizagem e construção do conhecimento científico. Nesse sentido, os recursos didáticos trabalham com o sentido tátil, entendido como um caminho importante de compreensão dos conceitos estudados por parte dos estudantes com e sem deficiência visual. A proposta sugerida é composta pelos seguintes materiais didáticos:  a “Caixa Estelar”, a constelação do Cruzeiro do Sul planificada e o “Caderno de Constelações”. A partir deles é possível abordar o conceito de constelações, o aspecto cultural e cotidiano nelas envolvidos, bem como o movimento anual dos astros. Foram sugeridas atividades individuais e coletivas que mostraram que as construções dos conhecimentos astronômicos, especialmente sobre o céu, são realizadas por seres humanos em conjunto. Com este trabalho, espera-se que o estudo da Astronomia em ambientes formais de educação possa ser desenvolvido sem que a relação entre ensino e aprendizagem seja pautada estritamente pelo sentido da visão, além de poder proporcionar um desenvolvimento que ultrapassa o aspecto conceitual, chegando ao nível atitudinal, ou seja, sensibilizando os educandos a compreender as potencialidades do material didático de proporcionar condições de aprendizado aos alunos videntes e com deficiência visual por ser acessível também a estes.

Biografía del autor/a

Lucas Pasquali Darim, Universidade de São Paulo (USP)

Licenciado em Ciências da Natureza pela Universidade de São Paulo (USP)

Verónica Marcela Guridi, Universidade de São Paulo (USP)

Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).

Beatriz Cavalheiro Crittelli, Universidade Federal Fluminense (UFF)

Doutoranda em Ensino de Ciências pela Universidade de São Paulo (USP).

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Publicado
2021-10-15
Sección
Dosieres temáticos