A roda como método de aprendizado do movimento com pessoas com deficiência visual: o papel dos relatos de campo na pesquisa-intervenção

  • Laura Pozzana Instituto Benjamin Constant
  • Virgínia Kastrup
Palavras-chave: Orientação e Mobilidade (OM), Corpo, Deficiência visual, Pesquisa-intervenção

Resumo

Partimos da consideração de que não é natural que o corpo da pessoa cega e com baixa visão seja tenso e
rígido. A partir de uma Oficina de Corpo, Movimento e Expressão, que acontece semanalmente desde 2007
no Centro de Convivência do Instituto Benjamin Constant, através de uma mobilização sensível de modo
grupal, produzimos a ativação de articulações, a criação de território existencial e a produção de confiança no mundo. Este artigo tem como objetivo mostrar como, a partir do acompanhamento do processo da oficina e do registro das atividades em relatos de campo, o manejo da oficina associado ao manejo da pesquisa resultou na criação de uma metodologia de trabalho e na construção de conhecimento. A pesquisa utiliza o método da cartografia (PASSOS et al., 2009, e PASSOS et al., 2014), que é um método de pesquisa-intervenção que envolve a criação de um campo, de um corpo comum.

Biografias dos Autores

Laura Pozzana, Instituto Benjamin Constant

Doutora em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da niversidade Federal do Rio de Janeiro e instrutora do Sistema Río Abierto. É pós-doutoranda do programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa Cognição e Coletivos (NUCC). É autora do livro O corpo em conexão (Editora da UFF, 2008) e tem diversos artigos publicados. Dedica-se a temas como corpo, arte, clínica e deficiência visual. Desde 2007, coordena uma Oficina de Corpo, Movimento e Expressão no Instituto Benjamin Constant (como voluntária e também pesquisadora), prática que deu origem à sua tese de doutorado, Movimento sensível e vital: uma oficina articulando a cegueira com o mundo, defendida em 2013.

Virgínia Kastrup

Doutora em Psicologia Clínica (Pontifícia Universidade Católica-SP) e professora titular do Instituto de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq na área de Psicologia Cognitiva. Publicou A invenção de si e do mundo (Papirus, 1999; Autêntica, 2007) e Políticas da cognição (em coautoria com Kastrup, Tedesco e Passos, Sulina, 2008). É uma das organizadoras de Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade (Passos, Kastrup e Escóssia, Sulina,

2009), Pistas do método da cartografia: a experiência da pesquisa e o plano comum (Passos, Kastrup e Tedesco, Sulina, 2014), Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa com pessoas com deficiência visual (Moraes e Kastrup, Nau, 2010) e diversos artigos em livros e revistas. Suas pesquisas se articulam em torno do tema da invenção, com desdobramentos sobre aprendizagem, atenção, arte e deficiência visual. Foi coordenadora, juntamente com Guilherme Vergara, do projeto “Encontros Multissensoriais no Museu de Arte Moderna do Rio” (2011-2013). 

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Publicado
2017-02-23
Seção
Artigos Livres