Intervenção fonoaudiológica na deficiência visual congênita: um relato de experiência

  • Juliana de Sá Machado Guilam Machado Instituto Ben jamin Constant (IBC)
  • Luiz Augusto de Paula Souza Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP)

Resumen

Este artigo apresenta um relato de experiência detalhado sobre uma intervenção fonoaudiológica realizada ao longo de um ano com Teodoro, uma criança cega congênita. O objetivo central do estudo foi descrever e analisar as características do desenvolvimento da linguagem observadas durante esse período, destacando os avanços e desafios enfrentados ao longo do processo. A intervenção foi planejada de forma individualizada, levando em consideração as necessidades específicas da criança, suas potencialidades e seu contexto familiar. Durante o acompanhamento, foram utilizados recursos e estratégias adaptadas, como estímulos sensoriais, atividades de exploração tátil e auditiva, além de orientações para os cuidadores, visando promover a interação e o desenvolvimento linguístico de forma integrada. Os resultados obtidos evidenciam que, apesar das limitações estruturais presentes na linguagem oral, a comunicação de Teodoro apresentou avanços significativos na organização simbólica. Esse progresso foi particularmente evidenciado durante situações de jogo simbólico mediado, nas quais se observou o uso funcional e intencional da linguagem. Verificou-se, ainda, um aumento progressivo na iniciativa comunicativa, na compreensão dos turnos conversacionais e na utilização articulada de recursos verbais e não verbais para a consecução de objetivos comunicativos. Isso valida a relevância da atuação fonoaudiológica no favorecimento da aquisição e desenvolvimento da linguagem, demonstrando que, mesmo em contextos atípicos, a intervenção especializada pode promover avanços significativos. Além disso, o estudo reforça a importância de uma intervenção contínua e multidisciplinar que considere as particularidades de cada caso, promovendo uma intervenção mais efetiva e humanizada. Os resultados também sugerem que estratégias sensoriais e o uso de recursos táteis e auditivos podem ser altamente eficazes no desenvolvimento linguístico de crianças com deficiência visual congênita, contribuindo para ampliar as possibilidades de comunicação e autonomia.

Biografía del autor/a

Juliana de Sá Machado Guilam Machado, Instituto Ben jamin Constant (IBC)

Mestre em Fonoaudiologia pela Universidade Veiga de Almeida
Fonoaudióloga do Instituto Benjamin Constant

Luiz Augusto de Paula Souza, Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP)

Doutor em Psicologia Clínica pela PUC-SP
Professor titular da PUC-SP

Citas

CONNOLLY, Andrew C., GLEITMAN, Lila R.; THOMPSON-SCHILL, Sharon L. Effect of congenital blindness on the semantic representation of some everyday concepts. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, [Washington, US], v. 104, n. 20, p. 8241-8246, may 2007.

GILBERT, Clare et al. Characteristics of infants with severe retinopathy of prematurity in countries with low, moderate, and high levels of development: implications for screening programs. Pediatrics, [Illinois, US], v. 115, n. 5, e518-e525, may 2005.

GORI, Monica et al. Impairment of auditory spatial localization in congenitally blind human subjects. Brain, [Oxford, Inglaterra, GB], v. 137, n. 1, p. 288–293, jan.2014. DOI: https://doi.org/10.1093/brain/awt311.

HOBSON, Roderick Peter; LEE, Anthony; BROWN, Rachel. Autism and congenital blindness. Journal of Autism and Developmental Disorders, [s. l.], v. 29, n. 1, p. 45–56, 1999.

KLAUS, Marshall H.; KLAUS, Phyllis H. Seu surpreendente recém-nascido. Porto Alegre: Artmed, 2001.

MUÑOZ, Maria. Language assessment and intervention with children who have visual impairment: a guide for speech-language pathologists. Austin, US: Morgan Printing, 1998.

RECCHIA, Susan L. Establishing intersubjective experience: developmental challenges for young children with congenital blindness and autism and their caregivers. In: LEWIS, Vicky; COLLIS, Glyn M. (ed.). Blindness and psychological development in young children. Leicester, UK: British Psychological Society, 1997.

SANTA HELENA, Ana Paula; CUNHA, Maria Claudia. Perfil comunicativo de crianças pertencentes a famílias multiespécie. Distúrbios da Comunicação, São Paulo, v. 33, n. 1, p. 161–172, mar. 2021. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/article/view/50169. Acesso em: 13 out. 2025.

SANTOS, Andréa Mazzaro Almeida da Silva. A construção da intersubjetividade no desenvolvimento da criança cega congênita: possibilidades, impasses e alternativas ao primado da visão. Rio de Janeiro: Instituto Benjamin Constant, 2020.

STRERI, Arlette; GENTAZ, Edouard. Cross-modal recognition of shape from hand to eyes in human newborns. Somatosensory & Motor Research, [London], v. 20, n. 1, p. 13–18, 2003.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). 9D90 Vision impairment including blindness. In: WHO. ICD-11: International Classification of Diseases – 11th Revision. Geneva: WHO, 2025.

Publicado
2025-12-16
Sección
Relatos de Experiencia