Intervenção fonoaudiológica na deficiência visual congênita: um relato de experiência
Resumen
Este artigo apresenta um relato de experiência detalhado sobre uma intervenção fonoaudiológica realizada ao longo de um ano com Teodoro, uma criança cega congênita. O objetivo central do estudo foi descrever e analisar as características do desenvolvimento da linguagem observadas durante esse período, destacando os avanços e desafios enfrentados ao longo do processo. A intervenção foi planejada de forma individualizada, levando em consideração as necessidades específicas da criança, suas potencialidades e seu contexto familiar. Durante o acompanhamento, foram utilizados recursos e estratégias adaptadas, como estímulos sensoriais, atividades de exploração tátil e auditiva, além de orientações para os cuidadores, visando promover a interação e o desenvolvimento linguístico de forma integrada. Os resultados obtidos evidenciam que, apesar das limitações estruturais presentes na linguagem oral, a comunicação de Teodoro apresentou avanços significativos na organização simbólica. Esse progresso foi particularmente evidenciado durante situações de jogo simbólico mediado, nas quais se observou o uso funcional e intencional da linguagem. Verificou-se, ainda, um aumento progressivo na iniciativa comunicativa, na compreensão dos turnos conversacionais e na utilização articulada de recursos verbais e não verbais para a consecução de objetivos comunicativos. Isso valida a relevância da atuação fonoaudiológica no favorecimento da aquisição e desenvolvimento da linguagem, demonstrando que, mesmo em contextos atípicos, a intervenção especializada pode promover avanços significativos. Além disso, o estudo reforça a importância de uma intervenção contínua e multidisciplinar que considere as particularidades de cada caso, promovendo uma intervenção mais efetiva e humanizada. Os resultados também sugerem que estratégias sensoriais e o uso de recursos táteis e auditivos podem ser altamente eficazes no desenvolvimento linguístico de crianças com deficiência visual congênita, contribuindo para ampliar as possibilidades de comunicação e autonomia.
Citas
CONNOLLY, Andrew C., GLEITMAN, Lila R.; THOMPSON-SCHILL, Sharon L. Effect of congenital blindness on the semantic representation of some everyday concepts. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, [Washington, US], v. 104, n. 20, p. 8241-8246, may 2007.
GILBERT, Clare et al. Characteristics of infants with severe retinopathy of prematurity in countries with low, moderate, and high levels of development: implications for screening programs. Pediatrics, [Illinois, US], v. 115, n. 5, e518-e525, may 2005.
GORI, Monica et al. Impairment of auditory spatial localization in congenitally blind human subjects. Brain, [Oxford, Inglaterra, GB], v. 137, n. 1, p. 288–293, jan.2014. DOI: https://doi.org/10.1093/brain/awt311.
HOBSON, Roderick Peter; LEE, Anthony; BROWN, Rachel. Autism and congenital blindness. Journal of Autism and Developmental Disorders, [s. l.], v. 29, n. 1, p. 45–56, 1999.
KLAUS, Marshall H.; KLAUS, Phyllis H. Seu surpreendente recém-nascido. Porto Alegre: Artmed, 2001.
MUÑOZ, Maria. Language assessment and intervention with children who have visual impairment: a guide for speech-language pathologists. Austin, US: Morgan Printing, 1998.
RECCHIA, Susan L. Establishing intersubjective experience: developmental challenges for young children with congenital blindness and autism and their caregivers. In: LEWIS, Vicky; COLLIS, Glyn M. (ed.). Blindness and psychological development in young children. Leicester, UK: British Psychological Society, 1997.
SANTA HELENA, Ana Paula; CUNHA, Maria Claudia. Perfil comunicativo de crianças pertencentes a famílias multiespécie. Distúrbios da Comunicação, São Paulo, v. 33, n. 1, p. 161–172, mar. 2021. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/article/view/50169. Acesso em: 13 out. 2025.
SANTOS, Andréa Mazzaro Almeida da Silva. A construção da intersubjetividade no desenvolvimento da criança cega congênita: possibilidades, impasses e alternativas ao primado da visão. Rio de Janeiro: Instituto Benjamin Constant, 2020.
STRERI, Arlette; GENTAZ, Edouard. Cross-modal recognition of shape from hand to eyes in human newborns. Somatosensory & Motor Research, [London], v. 20, n. 1, p. 13–18, 2003.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). 9D90 Vision impairment including blindness. In: WHO. ICD-11: International Classification of Diseases – 11th Revision. Geneva: WHO, 2025.



.png)