Letramentos de estudantes cegos do Brasil e de Portugal

uma análise sobre os usos da leitura em diferentes espaços sociais e educacionais

  • Amanda Botelho Corbacho Martinez Prefeitura Municipal de Salvador com atuação no Instituto de Cegos da Bahia
  • Alessandra Santana Soares e Barros Universidade Federal da Bahia (UFBA)
  • Anabela Cruz-Santos Universidade do Minho (Portugal)

Resumen

As pessoas cegas conseguem acessar a leitura a partir do Sistema Braille, com o auxílio dos ledores, que são as pessoas que enxergam e leem em voz alta para os cegos, e ainda com o auxílio das tecnologias digitais por meio do sintetizador de voz de programas leitores de tela. Este artigo apresenta uma análise acerca dos usos que os estudantes cegos do Brasil e de Portugal fazem da leitura, em diferentes espaços sociais e educacionais. Foi utilizado o conceito dos letramentos sociais proposto pelos Novos Estudos do Letramento (New Literacy Studies) e a concepção de leitura na perspectiva interacionista, baseada na concepção bakhtiniana de linguagem. Foi realizado um estudo qualitativo e a entrevista semiestruturada foi utilizada como dispositivo de pesquisa. Participaram da investigação seis estudantes cegos, de 12 a 17 anos de idade, que frequentavam escolas públicas na região norte de Portugal e cinco estudantes cegos, de 11 a 18 anos de idade, que frequentavam escolas públicas e particulares no estado da Bahia. Em Portugal, também entrevistamos os professores que atuam na educação especial para obter informações complementares. A partir dos relatos dos estudantes de ambos os países, identificamos que, de modo geral, os computadores e celulares são os artefatos mais utilizados no cotidiano dos alunos para a prática da leitura e não apenas pela falta de acesso ao braille, mas também pelo fato de a maioria dos estudantes preferir ler por meio desses recursos. Foi possível perceber que tanto no Brasil como em Portugal há dificuldade de acesso aos livros acessíveis em braille ou no formato digital. Na escola há uma valorização da leitura por meio do braille, porém, no cotidiano, os principais mediadores das práticas letradas são os ledores e as tecnologias digitais. Os resultados deste estudo demonstram que o braille deve continuar sendo ensinado, por propiciar a alfabetização e o contato direto com a ortografia das palavras, contudo, considera-se pertinente existir um forte incentivo ao uso dos computadores portáteis desde as séries iniciais do Ensino Fundamental, uma vez que a leitura com o apoio da oralidade é frequente no cotidiano dos alunos cegos brasileiros e portugueses. Tais modos e meios de ler eescrever em tempos de tecnologias digitais devem ser valorizados no contexto escolar de forma a contribuir para uma educação de qualidade e inclusiva.

Biografía del autor/a

Amanda Botelho Corbacho Martinez, Prefeitura Municipal de Salvador com atuação no Instituto de Cegos da Bahia

Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Alessandra Santana Soares e Barros, Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Doutora em Ciências Sociais pela UFBA

Anabela Cruz-Santos, Universidade do Minho (Portugal)

Doutora em Estudos da Criança pela Universidade do Minho

Citas

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Publicado
2022-09-29