O aprendizado da escrita em braille: estabelecendo limites entre as palavras
Resumen
O domínio da língua escrita é fundamental na sociedade contemporânea. A habilidade de demarcar os limites das palavras no texto é desenvolvida ao longo do processo de aquisição da língua escrita, sendo tal demarcação importante para a compreensão textual. São dois os tipos de segmentação lexical não convencional encontrados nos textos infantis: a hipossegmentação (junção de duas ou mais palavras) e a hipersegmentação (espaço indevido inserido em uma palavra). Como o Sistema Braille possibilita aos indivíduos cegos a participação em diversos contextos, é fundamental que seja propiciado seu domínio pleno. Assim, o presente artigo examina a natureza das segmentações não convencionais na produção textual em braille, com base em pesquisa da qual participaram 21 alunos dos três primeiros anos do ensino fundamental do Instituto Benjamin Constant. Os resultados evidenciaram a predominância de hipossegmentações e a importância da atribuição de significados às palavras, quando da colocação de espaços em branco entre elas, de forma semelhante à observada na escrita de crianças visonormais. As segmentações não convencionais, presentes nos textos dos aprendizes cegos, indicam estar ainda em desenvolvimento sua compreensão do conceito de palavra. Entender o processo de aquisição da língua escrita é fundamental para que se desenvolvam práticas pedagógicas que facilitem o domínio das habilidades relativas à produção textual.
Citas
ALMEIDA, M. G. Alfabetização: uma reflexão necessária. Revista Benjamin Constant, Rio de janeiro, n. 6, março, 1997. Disponível em: http://www.ibc.gov.br/.Acesso em: 1997.
BELARMINO, J. Braille e semiótica: um diálogo relevante. Biblioteca on-line de Ciências da Comunicaçã, 2007. Disponível em htt://: www.bocc.ubi.pt. Acesso em: 2007.
BRASIL. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos cegos e de alunos com baixa visão. 2ª. ed. 2006.Coordenação geral SEESP/MEC - Brasília: MEC, Secretaria de Educação Especial. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/alunoscegos.pdf. Acesso em :2006.
CARRAHER, T. N. Explorações sobre o desenvolvimento da competência em ortografia em português. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 1 (3), p.269- 285, 1985.
CARVALHO, R. E. Removendo barreiras para a aprendizagem. In: SECRETARIA DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA. Salto para o futuro: Educação Especial: tendências atuais. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999.
CORREA, J. A aquisição do sistema de escrita por crianças. In:_____. J. CORREA, A. SPINILLO & S. LEITÃO. Desenvolvimento da linguagem: escrita e textualidade. FAPERJ. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2001.
CORREA, J. & DOCKRELL, J. Unconventional word segmentation in Brazilian children‟s early text production. Reading & Writing, 20(8), p. 815-831, 2007.
CRYSTAL, D. Dicionário de lingüística e fonética. [Tradução e adaptação, Maria Carmelita Pádua Dias]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 2001.
FERREIRO, E.; PONTECORVO, C., MOREIRA, N. R. & HIDALGO, I. G. Chapeuzinho vermelho aprende a escrever: estudos psicolingüísticos comparativos em três línguas. São Paulo: Ática, 1996.
GOMBERT, J. E. Metalinguistic Development. Great Britain: BPCC Wheatons Ltd., 1992.
GOSCHE, B., SCHWARTZ, A. & WELLS-JENSEN, S. A cognitive approach to brailling errors. Journal of Visual Impairment and Blindness. n.101, p. 416-428, 2007.
GREANEY, J. & REASON, R. Braille reading by children: is there a phonological explanation for their difficulties? The British Journal of Visual Impairment and Blindness, n.18 (1), p.35-40, 2000.
GÜNTHER, H. Aspects of a history of written language processing: examples from the roman world and the early Middle Ages. In: C. PONTECORVO (Ed.), Writing development: An interdisciplinary view (pp. 129–149). Amsterdam: John Benjamins, 1997.
LEMLE, M. Guia teórico do alfabetizador. 15 ed. São Paulo: Ática, 2003.
MASINI, E. F.S., CHAGAS, P. A.C. & COVRE, T. K.M. Facilidades e dificuldades encontradas pelos professores que lecionam para alunos com deficiência visual em universidades regulares. Revista Benjamin Constant, n.34, agosto, 2006.
NICOLAIEWSKY, C. de A. Segmentação Lexical na Produção Textual Infantil em Braille. Dissertação de Mestrado não-publicada. Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
PRING, L. Touch and go: learning to read Braille. Reading Research Quarterly, n.29, p.67-74, 1994.
ROAZZI, A. & CARVALHO, M.R. O desenvolvimento de habilidades de segmentação lexical e a aquisição da leitura. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, n.76 (184), p.477-548, 1995.
STONE, J. Has Braille had its day? British Journal of Visual Impairment, n.13 (2), p.80-81, 1995.
TOLCHINSKY, L. Writing and written numbers as source of knowledge. In: E. Teubal, J. E. Dockrell, & L. Tolchinsky (Eds.) Notational knowledge: Historical and developmental perspectives. Rotterdam: Sense Publishers, 2006.
TOLCHINSKY, L. & CINTAS, C. The development of graphic words in written Spanish: what can be learnt from counterexamples? In: L. TOLCHINSKY (ed.). Developmental aspects in learning to write. The Netherlands: Kluwer Academic Publishers, p.77-95, 2001.