Adolescer: a vivência de portadores de deficiência visual

  • Maria Alves de Toledo Bruns Universidade de São Paulo
  • Patrícia Lopes Salzedas Universidade de Campinas

Abstract

A adolescência caracteriza-se por transformações corporais e psicológicas, além de compromissos pessoais e ocupacionais, sexuais e ideológicos assumidos para com a sociedade. O objetivo do presente estudo foi compreender como é estar na adolescência para portadores de deficiência visual. Entrevistaram-se 7 adolescentes portadores de deficiência visual, com idade entre 13 e 21 anos, dos quais cinco são do sexo feminino e dois do sexo masculino, de uma escola pública do interior paulista. Para a análise dos depoimentos utilizou-se a metodologia qualitativa fenomenológica. A compreensão dos discursos baseou-se na relação dialógica descrita por Martin Buber, que aponta duas possibilidades do ser humano revelar-se no mundo: a relação EU-TU (encontro genuíno com o outro, baseado na reciprocidade) e o relacionamento EU-ISSO (contato superficial). Pelos resultados obtidos nesta pesquisa, verificou-se uma pobreza qualitativa relativa às experiências vividas e compartilhadas com o outro, e uma maneira de relacionamento predominante pautada na categoria EU-ISSO. Constatou-se, igualmente, uma vivência permeada por preconceitos e tabus, em que o diálogo entre pais e filhos, em especial sobre a sexualidade, é escasso, revelando o fato dos pais não reconhecerem a sexualidade dos filhos deficientes. A escola aparece desempenhando um papel fundamental na integração social destes jovens e como mediadora das relações entre o portador de deficiência e sua família. Conclui-se que a escola poderia, portanto, possibilitar a conquista de um lugar produtivo para estes jovens na sociedade, e promover a mobilização das pessoas para que possam “ver” o portador de deficiência visual sem reduzi-lo à cegueira, ou seja, viabilizando uma relação com o ser total, a qual se define no EU-TU

Author Biographies

Maria Alves de Toledo Bruns, Universidade de São Paulo
Maria Alves de Toledo Bruns é doutora em Psicologia Educacional pela UNICAMP e orientadora sexual pela Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana – SBRASH – em São Paulo. Realiza pesquisa na área de Sexualidade e Envelhecimento na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – USP, Ribeirão Preto
Patrícia Lopes Salzedas, Universidade de Campinas

Patrícia Lopes Salzedas é psicóloga e mestranda em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo – Campus de Ribeirão Preto e com Aprimoramento em “Fundamentos de Psicologia em Saúde Pública da Mulher” no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Faculdade de Ciências Médicas – UNICAMP).

References

ABERASTURY, A. & KNOBEL, M. Adolescência normal. 10ª ed. Porto Alegre: Artes médicas, 1981.

BATSHAW, M. L. & PERRET, Y. M. Criança com deficiência: uma orientação médica. Cap. 15. Santos: Maltese, 1990.

BENEDICT, R. Continuidades e descontinuidades no condicionamento cultural. In:

KLUCKHOHN, C. et al. Personalidade na natureza, na sociedade e na cultura. Belo Horizonte: Itatiaia, 52-63, 1965.

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O. & TEIXEIRA, M. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 18:254-263, 1993.

BRUNS, M. A. T. Não era bem isso o que eu esperava da universidade: um estudo de escolhas profissionais. Tese (Doutorado). Campinas/SP: Faculdade de Educação – UNICAMP, 1992.

BRUNS, M. A. T. Educación sexual y deficiencia visual: el diálogo del silencio por el silencio Del diálogo. Revista de Psicologia. v. XVI. n° 1, p. 83-101, Pontificia Universidad Catolica del Peru, Departamento de Humanidades, primer semestre, 1998.

BUBER, M. Eu e tu. São Paulo: Moraes, 1977.

CHAUÍ, M. Repressão sexual: essa nossa (des)conhecida. São Paulo: Brasiliense, 1984.

FOREMAN, V. L. Importância da educação sexual no desenvolvimento de adolescentes-cegos. Dissertação de Mestrado. São Paulo: PUC, 1989.

GALLATIN, J. Adolescência e individualidade: uma abordagem conceitual da psicologia da adolescência. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1978.

GIL, M. E. A. & ANDRADE, G. S. Cegueira e deficiência visual: uma abordagem sociológica. São Paulo: FACE, 1989.

GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.

KIRK, S. A. & GALLANGHER, J. J. Educação da criança excepcional. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

MARTINS, J. & BICUDO, M.A.V. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo: Moraes, EDUC (Editora da PUC-SP), 1989.

MARTINS, M. Um enfoque fenomenológico do currículo: educação como poiésis. São Paulo: Cortez, 1992.

MILET, E. M. & MARCONI, R. Metodologia participativa na criação de material educativo com adolescentes. In: RIBEIRO, M. (org.). Educação sexual: novas idéias, novas conquistas. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 1993.

SCHOLL, T, G. A educação de crianças com distúrbios visuais. Cap. 7. In: CRUICKSHANK, A. Educação da criança e do jovem excepcional. São Paulo: Martins Fontes, 1967.

TRINDADE, E. & BRUNS, M. A. T. Era isso o que eu queria ? um estudo da maternidade e da paternidade na adolescência. Monografia (Bacharelado em Psicologia). 65 p. Ribeirão Preto: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo (USP), 1995.

TRINDADE, E. “Eu, pai?!” A paternidade na adolescência e seu significado. 188 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Ribeirão Preto: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo (USP), 1997.

VASH, C. L. Enfrentando a deficiência: a manifestação, a psicologia, a reabilitação. São Paulo: Pioneira, Edusp, 1988.

VON ZUBEN, A. Introdução. p. V-LXXVIII. In. BUBER, M. Eu e tu. São Paulo: Moraes, 1977.

Published
2017-04-04