Xadrez para pessoas com deficiência visual: saberes de um cotidiano singular no Instituto Benjamin Constant
Resumo
Cada relação com o outro e cada (des)construção do conhecimento é única e própria do cotidiano e da identidade e complexidade humanas. Por isso, as estratégias didáticas são diversas e plurais, criadas e (re)pensadas conforme as necessidades e potencialidades dos estudantes, tornando rica a prática pedagógica de cada cotidiano. O presente texto, de perspectiva qualitativa, com base em narrativa autobiográfica, busca apresentar os saberes de experiência de fazeres pedagógicos no ensino do jogo de xadrez junto a estudantes com deficiência visual (DV) do Instituto Benjamin Constant (IBC). Este relato de experiência visa compartilhar, por meio da escrita, as adaptações utilizadas no jogo para estudantes com DV, incluindo as principais regras e estratégias específicas para o seu ensino, nas aulas do IBC. Tais regras, bem como suas respectivas adaptações, são apresentadas com base nas leis do xadrez da Fédération Internationale des Échecs (FIDE), Federação Internacional de Xadrez. As estratégias didáticas que aqui se encontram ilustradas são (des)construídas a partir da singularidade e identidade dos estudantes com DV no IBC. Conclui-se que o xadrez é uma importante ferramenta lúdica e pedagógica para o desenvolvimento da concentração e do equilíbrio emocional, para a criação de estratégias, bem como para a melhora do autocontrole. Além disso, tal prática auxilia no aprendizado de outros saberes e possibilita interações sociais e inclusão por meio do lazer, formação educacional e profissionalização. Espera-se que os saberes apresentados possam ressoar em outros cotidianos, disseminando o xadrez para pessoas com DV e contribuindo para construção de práticas mais dignas, justas e inclusivas.
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