A aprendizagem de trigonometria por estudantes cegos
Resumo
A presente discussão versa a respeito do processo de desenvolvimento de competências de seis estudantes cegos diante de tarefas vinculadas a saberes trigonométricos. Historicamente, o acesso das minorias à escola, dentre essas, os estudantes com deficiência, transitou por diferentes fases desde a exclusão até a pretendida inclusão educacional. O fato é que esse fenômeno tem exigido outra compreensão da dinâmica escolar, principalmente no sentido de ser um espaço que busca a garantia de direitos de forma equitativa. Na aula de Matemática, vêm à tona dificuldades que parecem prejudicar o atendimento dos estudantes cegos, o que, frequentemente, acontece em situações em que se empregam recursos com linguagem inadequada às características desse público, sobretudo com forte apelo à visualização, restrita ao sentido da visão. Neste texto, buscar-se-á responder à questão: De que forma estudantes cegos desenvolvem competências relacionadas aos saberes trigonométricos? Dessa maneira, tem-se como objetivo explicar o desenvolvimento de competências trigonométricas por estudantes cegos. Os participantes responderam a 28 tarefas organizadas em 4 blocos a partir de elementos do método clínico-piagetiano. A elaboração e a análise do instrumento de coleta de dados, isto é, o conjunto de tarefas propostas aos seis estudantes e suas análises, foram subsidiadas pela Teoria dos Campos Conceituais, que explica o desenvolvimento de competências pelo sujeito em ação. Os resultados apontaram que os estudantes pareciam conhecer muito pouco sobre os saberes empregados nas tarefas apresentadas, mesmo já sendo escolarizados nesses temas. Apesar disso, o uso de recursos acessíveis com atividades cuidadosamente planejadas, construídas e aplicadas em um cenário de confiança nas suas habilidades demonstraram que a deficiência não impossibilitou a explicitação de competências em saberes trigonométricos pelos estudantes participantes.
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