O processo de formação de representações identificáveis para o ensino de função quadrática para estudantes cegos

  • Luis Fernando Ferreira de Araújo Fundação Catarinense de Educação Especial
  • Rogério de Aguiar Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Palavras-chave: Função Quadrática, Gráficos Táteis, Deficiência Visual, Software Monet

Resumo

Este trabalho foi o resultado de uma pesquisa de mestrado, realizada no Programa de Mestrado em Ensino de Ciências Matemática e Tecnologias da UDESC, na qual se elaboraram modelos de representação (MR) de gráficos e tabelas impressos em alto-relevo. Os modelos foram apresentados a estudantes participantes da pesquisa para que pudessem manuseá-los, e verificou-se a possibilidade de reconhecer tais representações e associá-las ao objeto matemático função quadrática. No início da investigação foi proposta a seguinte questão: “Um caderno de atividades, escrito em braille e a tinta simultaneamente, possibilita aos estudantes cegos matriculados no ensino regular o acesso aos diferentes registros de representação semiótica da função quadrática?”. O objetivo geral da pesquisa consistiu na criação de gráficos táteis em alto-relevo e braille, inseridos em um caderno de atividades voltado ao ensino de matemática para estudantes cegos. Participaram da investigação dois estudantes do Ensino Médio, com cegueira adquirida e congênita, além de dois profissionais revisores de textos em braille. Os MR utilizados no estudo foram desenvolvidos a partir dos softwares Monet e Braille Fácil. A Teoria dos Registros de Representação Semiótica proposta por Duval e o trabalho de Cerqueira e Ferreira fundamentaram a pesquisa. Optou-se pela pesquisa qualitativa e o estudo de caso como abordagem metodológica; na análise dos dados empregou-se a técnica de Análise de Conteúdo proposta por Bardin. O reconhecimento por meio do tato das características do apresentadas nos MR foi fundamental no processo de formação de registros identificáveis, contribuindo para que os estudantes efetuassem a associação da parábola ao objeto matemático que ela representa, a função quadrática. Antes de iniciar a construção dos modelos de representação (MR), constatou-se a não existência de documentos oficiais que normatizassem o uso dos gráficos táteis no Brasil, então foi necessário elaborar parâmetros (PR) para a construção de modelos de gráficos e tabelas. Estes modelos foram submetidos à avaliação dos profissionais revisores de braille, que forneceram sugestões de melhorias no material produzido. A partir do processo de experimentação junto aos dois estudantes, constatou-se a necessidade e a importância da realização de leituras guiadas, ao menos nas atividades iniciais, pois este modo de leitura contribuiu para que os estudantes se familiarizassem com o material, atribuindo significado tátil às texturas e relevos. Com base nos referenciais teóricos adotados e nas constatações alcançadas durante a experimentação, foi possível confeccionar um caderno de atividades escrito em braille e a tinta simultaneamente. Constatou-se que este caderno pode contribuir para que estudantes cegos matriculados no ensino regular tenham acesso aos diferentes registros de representação semiótica do objeto matemático função quadrática. Nesse sentido, o item provou-se um material didático adequado e aliado ao trabalho do professor, sendo necessário para que os cegos tenham acesso às representações de objetos matemáticos, sobretudo aqueles que compreendem as representações gráficas e tabulares.

Biografias dos Autores

Luis Fernando Ferreira de Araújo, Fundação Catarinense de Educação Especial

Mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

Rogério de Aguiar, Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

Doutor em Matemática Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

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Publicado
2023-08-06