Ensino de Química para alunos com deficiência visual e o direito à aprendizagem como parte do direito à educação

  • Laís Perpetuo Perovano Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Vitória, ES, Brasil
  • Douglas Christian Ferrari de Melo Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Vitória, ES, Brasil
Palavras-chave: Educação Inclusiva, Reações Químicas, Práticas Inclusivas

Resumo

Este artigo objetiva apresentar questões teóricas e práticas relacionadas à escolarização de pessoas com deficiência visual no processo de ensino-aprendizagem na disciplina de Química. Partimos do pressuposto de que o direito à educação deve assegurar completamente o direito à aprendizagem, e esta deve estar ancorada em processos que assegurem condições adequadas para o acesso, a permanência e o êxito na trajetória escolar. Assim, serão apresentadas, ao longo do texto, discussões sobre a realização de aulas experimentais com uma estudante cega que podem colaborar para o avançar do debate sobre a aprendizagem e desenvolvimento de pessoas com deficiência visual. O referencial teórico que sustentará esse debate está alicerçado nas contribuições da teoria histórico-cultural. Trata-se de um estudo qualitativo, caracterizado como um estudo de caso. A pesquisa foi realizada em uma escola pública da rede estadual de ensino, localizada no norte do estado do Espírito Santo, no ano de 2018, e teve como sujeito de pesquisa uma aluna com deficiência visual (cegueira congênita) matriculada na 1ª série do Ensino Médio. A coleta de dados deu-se a partir de observações e anotações feitas no decorrer da aula pela docente da disciplina de Química. Além disso, a aula foi gravada e o áudio, transcrito posteriormente. A partir dos dados coletados e analisados em conjunto à literatura da área, consideramos que as principais barreiras relacionadas à acessibilidade curricular estão associadas às metodologias de ensino utilizadas nos diferentes espaços escolares, que em muitos casos têm como parâmetro o ensino-aprendizagem a partir de informações predominante visuais. Neste contexto, assegurar a aprendizagem de pessoas com deficiência visual requer um planejamento consistente, que resulte em práticas de ensino mobilizadoras de caminhos alternativos de desenvolvimento que ultrapassem as barreiras impostas socialmente pela ausência de visão.

Biografias dos Autores

Laís Perpetuo Perovano, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Vitória, ES, Brasil

Mestra em Ensino na Educação Básica pela UFES

Douglas Christian Ferrari de Melo, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Vitória, ES, Brasil

Doutor em Educação pela UFES

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Publicado
2023-01-30