Barreiras vivenciadas por servidores cegos em uma instituição pública mineira
Resumo
Historicamente, as pessoas com deficiência tiveram seus direitos negligenciados em razão de atitudes capacitistas. Dentre esses direitos, o direito ao trabalho por muito tempo foi questionado devido à equivocada associação entre deficiência e competência. O acesso ao trabalho via concurso público pode ser um desafio adicional considerando o processo de seleção, que pode muitas vezes impor barreiras. Neste contexto, desenvolvemos esta pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso, que teve como objetivo investigar, a partir da perspectiva de servidores com deficiência visual que atuam em uma Instituição Federal mineira, a presença de barreiras que influenciam no desempenho de suas funções. São apresentados resultados referentes a dois participantes com deficiência visual, os quais participaram de entrevista semiestruturada, cujo roteiro foi elaborado pelas pesquisadoras. Os dados foram categorizados e analisados com base na literatura da área. Os resultados desta pesquisa revelam que a maioria das barreiras vivenciadas pelos participantes existe devido a um modelo médico de deficiência ainda enraizado na sociedade atual. Identificamos barreiras atitudinais: chefias e colegas de trabalho ainda desconhecem a totalidade dos direitos das pessoas com deficiência no serviço público. Foram constatadas também barreiras arquitetônicas, dificuldades dos servidores durante o processo de alocação de vagas e durante as avaliações de estágio probatório. A partir das análises e reflexões, identifica-se a necessidade de as instituições públicas fortalecerem suas políticas institucionais contemplando ações e iniciativas com vistas à constituição de uma cultura inclusiva nos espaços, de modo que os servidores com deficiência sejam ouvidos em suas demandas e possam desempenhar suas funções sem barreiras.
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