Adaptação de instrumentos de avaliações públicas para superar limitações de leitura enfrentadas por participantes cegos
Resumo
Com o objetivo de verificar a fidelidade ao Princípio da Equidade referente às ações dos Ledores nas avaliações públicas em que participam grupos de pessoas com características e especificidades diferentes, como no caso dos cegos, ao acessarem por meios distintos os instrumentos de avaliação, buscou-se examinar a interferência das experiências de vida do Ledor na construção do significado do texto em questão. Parte-se do pressuposto de que a leitura de um texto é um ato de significação desse texto e o Ledor, nesse caso, é a personagem que lê para o outro, oralizando o texto em questão. Para esse estudo, foram selecionadas, para análise, questões de Matemática das Provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2016, 2017 e 2018, e questões do nível 3 da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas) dos mesmos anos. Usou-se uma metodologia de análise inspirada no texto “Análise de Conteúdo”, de Roque Moraes (1999). Foi apresentada ao Ledor a prova de Ledor como uma versão da prova padrão destinada aos Ledores, cujas imagens foram descritas por especialistas, bem como foram discutidos os limites da construção dessas versões e adaptações. Levando em consideração a TRI (Teoria de Resposta ao Item) como um dos balizamentos na construção de provas distintas que permitam o posicionamento dos participantes em uma mesma escala de proficiência, se assegura a isonomia de participação de todos em avaliações públicas. Assim, se propõe a concepção de provas distintas, destinadas a grupos de participantes com características e especificidades diferentes no acesso aos instrumentos de avaliação por meios diversos, em especial com relação a grupos de pessoas com visão e grupos de cegos.
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