(Re)Construindo o espaço escolar
um relato de experiência sobre a inclusão de uma criança cega
Resumo
O êxito escolar da criança com deficiência visual decorre de múltiplas adaptações. Depende também de ações planejadas para incluir essa criança e para torná-la, junto com seus colegas, agentes de acessibilidade na escola e na comunidade em geral. Este relato de experiência descreve a participação de uma criança com cegueira nas atividades regulares da escola que ocasionou um projeto realizado no período letivo de 2018, visando inicialmente, sua inclusão na sala de aula. Durante o desenvolvimento do projeto, outras ações foram implementadas, buscando oferecer-lhe maior acessibilidade: o ensino do Braille e o uso de vendas pelos colegas a fim de mudar a perspectiva e as práticas de todos os agentes do contexto escolar e, possivelmente, fora dele. O objetivo deste trabalho foi apresentar e discutir o impacto e as reverberações dessa experiência que teve início na sala de aula e que se destinava a maximizar o acesso da criança cega às atividades pedagógicas, bem como, em outros espaços da escola. As atividades incluem, além da criança com deficiência visual e da professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE), a professora regente da sala regular, a auxiliar e todos os colegas da criança. Indiretamente, o desenvolvimento do projeto expandiu-se para o espaço escolar como um todo, envolvendo diferentes atores. A partir desse relato, fazemos alusão ao efeito dominó do desenvolvimento do projeto. As crianças da turma foram os alvos, porém, os efeitos refletiram-se nas práticas cotidianas dos funcionários que presenciaram as atividades e nas ações dos alunos de outras séries os quais compartilhavam os espaços comuns a todos, nas ações dos professores desses alunos, sobretudo na direção da escola e, por último, na comunidade. A expectativa é de que a cultura escolar seja estruturada, observando-se as diferenças e que experiências similares ampliem para a comunidade em geral o resultado da convivência com essas diferenças no espaço escolar.
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